sábado, 24 de outubro de 2009

Sobre Ela

Ela nunca me liga. Foi exatamente o que pensei quando o telefone tocou. Mas era ela e ligou só pra saber como eu estava. Acho que é louca. Quem bom... me sinto mais confortável depois de tal constatação. Uma semelhante! E ainda é ousada. Da forma que me aconselha, até acreditaria que sabe mesmo do que está falando. “É, essa minha amiga é muito segura”, pensaria eu, se fosse uma desavisada. “Se ela diz que no começo é assim mesmo, eu acredito!”. Mas, nas atuais circunstâncias, crer no que ela diz é um favor a mim mesma. É mais fácil. Mesmo que ela seja tão louca quanto eu.

Há um semestre ela era apenas uma amiga qualquer da faculdade. Não sabia o nome da mãe, nem do pai. Só sabia o da irmã, porque fazia ecos.... Suellen Ellene. Dá pra esquecer? Um eco desse fica gritando em minha mente por dias e provocando sinceras gargalhadas solitárias – tenho vergonha das minhas gargalhadas solitárias e, na maior parte das vezes, públicas. Mas voltemos ao que interessa. Ou não interessa. Não importa! Voltemos ao que quero contar. Acho que ficamos mais próximas depois que ela voltou de uma viagem transgressora. Diria mais... libertadora. Depois disso, nossas ideias, que tinham lá suas deliciosas porções de insanidade, se tornaram complementares.

Após meses de uma análise inovadora baseada na ingestão de coca-cola light na cantina da faculdade ( Não, nada de Freud ou Lacan. A psicanálise pós-moderna utiliza coca-cola light) chegamos a uma conclusão. Nossos namoros duráveis e politicamente corretos, com pessoas trabalhadoras e esforçadas eram um saco. Sim, um saco! Eu explico: se amassar no cinema com a mesma pessoa por sete anos, no meu caso, e três anos no dela, só parece lindo para os solteiros carentes. Quiçá desesperados. Ah! Pensando bem, depois de tanto tempo de aturação, digo, de relação, os casais vão ao cinema assistir o filme, mesmo, e se atracar com sacos de pipoca e refrigerante sem fim. Nada de amassos. Pois então... chutar os namorados foi uma ideia genial. A sacada! Gestalt (Amo essa palavra. Não sei bem o que significa, mas é tão cult)!

Mas não foi tão simples quanto nos pareceu a princípio. Os chutes tinham que ser sincronizados. Isso evitaria a carência excessiva, típica de fim de namoro velho. Ela bica na Barra e eu em Friburgo. Haja logística pra isso. Rendeu-nos várias semanas de planejamento e, acima de tudo, muita análise. Tá, mais coca-cola light, pra simplificar o raciocínio. Mas enfim conseguimos. Foi duro. Pois, ao contrário do que pode parecer, temos coração (dizem as más línguas que o órgão já chegou a registrar temperaturas de -10°C. Arriscaria dizer que, no caso dela, -18°C. Mas pelo menos existe. Pulsa.) .

Não saiu bem como o planejado, porque ela terminou umas três semanas antes. Mas ficamos solteiras e é isso que importa! E foi nesta época que ela começou a me ligar. Ela nunca me ligava, essa minha amiga da faculdade. E ligou só pra perguntar como eu estava com o fim do namoro. Vai-se o namorado, surge a amiga. Bela troca. Queríamos as mesmas coisas – noites e mais noites de insanidade completa. Queríamos amores (isso, no plural mesmo) intensos e fugazes. Desses que acabam quando o sol ordena que acendam as luzes da boate (odeio este momento. Por mim a festa poderia durar semanas). Sim, porque a gente enjoa rápido.

De acordo com meus cálculos já se passaram quatro meses desde que eu e Karen Monique, para os íntimos, nos declaramos oficialmente solteiras. Neste curto espaço de tempo já descobri que a mãe dela se chama Marília e é formada em Educação Física. Tá, sempre esqueço o nome do pai, mas sei que ele vive implorando para que Karen faça concurso público, o que o torna um clone do meu progenitor. Descobri também que Suellen Ellene me dá medo. O que eu posso fazer? Ela me dá medo! Não, ela não é feia. Bonita, até. Mas sempre tenho a impressão de que está pensando em alguma maldade a meu respeito. É, porque a Karen é assim. Adora uma maldade. A característica deve ser genética.

Ostentando o status de solteiras, já nos divertimos bastante. Tudo bem. Evitarei os detalhes sórdidos. Mas reitero que nossas mentes são complementares. No mais, descobri que a minha amiga alma gêmea esteve comigo nos últimos três anos e só agora notei. As diferenças entre nós eram gritantes. Ela adora Barra e eu a Lapa. Ela ama EUA e eu sonho com Europa. Ela Madonna e eu samba. Alguns detalhezinhos que dificultam este tipo de percepção. Ah, mas se eu soubesse... Poderíamos ter dado início aos trabalhos há muito mais tempo! Hoje temos alguns planos juntas. Manter uma geladeira repleta de ice num apartamento na Lagoa é um deles. Temos outros poucos objetivos profissionais também mas estes, por hora, são segredo. Não pensamos mais que relacionamentos duradouros são um saco. Talvez tenhamos aderido à classe dos solteiros desesperados. Mas continuamos insanas – é irremediável – e ainda complementares.

6 comentários:

Unknown disse...

First of all... it's amazing! Meu, a gente sempre falou que vc era a CDF da familia!!! E meus amigos ainda acham que eu sou CDF... hahaha

Segundo... eu sei bem como é essa sensação de finalmente achar a amiga-alma gêmea... e a minha ta chegando aqui em Kansas City em 5 dias.

=)

Thales Rafael disse...

É, eu demoro mas venho. Afinal, eu vou dar uma força para o blog das minhas grandes amigas (mesmo sabendo que elas não fazem o mesmo, já que o UDEIN e o Controverso estão abandonados à formas decreptas e autótrofes de vida). Só não esperem comentários carinhosos e politicamente corretos: se eu não gostar, eu falo. Afinal, eu sou um filósofo-crítico e com tendências suicídas. E o que faz um filósofo? Parte do particular para o universal, é apontado como chato, fala coisas que ninguém entende e dá a mínima. Quase como um jornalista, só que ganha ainda menos.

Eu sabia desde o começo que era a Karen. Apesar de não estar denotado o quanto esse pequeno ser de feições delicadas é maléfico. Talvez uma frase como "A Karen faz o Jack Estripador parecer um cortador de carnes mal pago de uma grande rede de supermercados" ou "A Karen fez um Straight Flush roubado jogando poker contra o diabo e o coitado ainda teve que assinar moratórias para pagar a dívida".

Mas quanto ao que me parece ser o tema central do texto, eu tenho uma crítica: qual o mal de ir para o cinema e se atracar com a pipoca? Afinal de contas, depois de sete ou setenta anos de namoro nós ainda devemos ir para o cinema piscado de tesão louco para fazermos libertinagens escondidinhos? Isso me parece utópico. Desafio alguém a encontrar um relacionamento longo que não tenha sido erodido pelo lapidar do tempo. Faz parte. A rotina faz parte, as chatices fazem parte, a vontade de esquartejar o namorado e sentir o sangue quente jorrar na face faz parte. A pós-modernidade louca do "aproveite tudo até o último segundo" é que impõe essa vontade brutal de satisfação milimetricamente contada nas milhares de bocas que se apresentam. E depois, um choro compulsivo no travesseiro por perceber que a vida é esse grande vazio. Deixo claro que não falo do caso específico de nenhuma das duas, mas se pararmos para pensar é isso o que acontece. Não estou julgando. Como dizia Seixas "faça o que tu queres pois há de ser tudo da lei". Mas isso é um sintoma da sociedade em que vivemos. Prova disso é o final do texto onde você diz que já não acha relacionamentos duradouros um saco. Chega uma hora em que precisamos de alguém do lado, mesmo que seja para direcionar nossos "filho da puta" ou "vai se fuder". Afinal de contas, qual é a graça de xingar alguém que você pegou em uma balada ensurdecedora?

Fui duro demais? Que bom! A Karen é meu grande guia! Quando crescer quero ser mau igualzin' a ela.

Sulamita disse...

Que fofo!

Carolina Custódio disse...

Juro que achei que vocês fossem muito próximas desde quando eu ainda fazia parte da massa iacsiana. Tá, ainda faço. Só que em status de "trancamento automático" (detesto esse termo! Parece que eu nao escolhi nada...). Bom, vamos ao que interessa: minha opinião nao interessa. Vocês são boas, muito boas. Meninas boas e boas meninas. hahahaha. Uma pergunta (a Lara entenderá com certeza): eu ainda vou me juntar a vcs? hahahaha. Beijo!

Jurema disse...

Siiim, Carol!! Você ainda vai se juntar. Assim esperamos, pelo menos! rs

SUELLEN ELLENE disse...

u.u'

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