sábado, 23 de janeiro de 2010

AMAR, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

Neste natal ganhei, de um amigo muito querido, um livro sobre o amor. Mais um dentre os milhões que já foram escritos com este tema tão lugar-comum. A dedicatória já era um presságio do que estava por vir: “Só que o amor, neste livro, é baixo”. Empolguei-me. Devorei.
Mas para a minha surpresa e, provavelmente, para a surpresa do Beto (que me deu o livro) quando resolver ler a obra, a história trata do amor comum, cotidiano, rotineiro. Em todas as suas fases: sedução, atração, sensualidade, rotina, dor da perda, esquecimento, novo amor. Não é exatamente o que eu e Beto costumamos chamar de “baixo”, mas tem uns momentos deste tipo, assim como qualquer relacionamento. É uma lição de amar, literalmente, já que a história se desenvolve em torno de Fräulen, uma pseudogovernanta contratada para ensinar ao adolescente Carlos os prazeres e dores do amor.
Fräulen deseja voltar para a Alemanha, país em que nasceu, e casar. Sonha com o marido que “chega da cidade escura... vai botar os livros na escrivaninha... Depois vem lhe dar o beijo na testa... (…) Jantariam quase sem dizer nada... Temos concerto da Filarmônica amanhã.”, diria ela. Quer um amor comum – para ela o mais verdadeiro. E este trabalho com Carlos seria um dos últimos para que ela pudesse, enfim, juntar todo o dinheiro necessário para voltar a sua pátria.
E Fräulen ensina. Carlos se apaixona. Fräulen quase se deixa levar pela semi-inocência do aluno. Sente ciúmes. Sente ternura. Sente pena. Por fim “Carlos amava com paixão”. Descobre outro sentido para a palavra felicidade. Descobre que “a felicidade é tão oposta à vida que, estando nela, a gente esquece que vive”. E Fräulen deixa Carlos. A lição está completa. Dura lição para o adolescente. E para a professora. Carlos fica apenas com esta “coisa tristonha e desagradável que dos portugueses herdamos: a saudade”. Mas aprende. AMAR é VERBO INTRANSITIVO. Não pede explicações, complementos. É apenas amor. E Carlos torna a amar. Como todo mundo. Amor comum.

1 comentários:

Maluh Andrade disse...

A.DO.REI.

Can't wait to get to read that book.
Can't wait to see you, sis!

Orgulho da família!

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