sexta-feira, 14 de maio de 2010

"I feel. No more can I say"

“Presta atenção nesta música”, disse ele. Estava de olhos fechados. Deitada, com a cabeça embaixo da janela. E uma moça com voz suave começou a sussurrar frases em outra língua... Arrancava de um canto meu qualquer coisas que eu havia trancafiado há algum tempo. De propósito. Com toda a razão. Falou dos caminhos que eu nunca encontrava, de quem não estava ao meu lado naquele momento.

Enganou-se. Sobre a cama, quatro pernas imóveis embaralhadas. Braços em abraço tenso para que o corpo entre eles não me escapasse. Respiração lenta. Qualquer suspiro mais forte provavelmente abortaria o que estava por vir. Preferia não correr o risco. Dois sentidos davam conta de mim. Um ouvia aquele sussurro que sacudia a inércia das minhas lembranças. O outro experimentava as pontas daqueles dedos indecisos, que deslizavam até meu joelho e depois corriam pelo braço. Sem pronunciar palavra ou pedir licença.

Em pouco tempo, excluí do meu delírio também a dona da voz suave. Escutei as minhas próprias canções, que faziam todo o sentido para mim. Para nós. Aquelas que eu mesma havia censurado. Senti a que dizia que“... (te) encontrei quando não quis mais procurar... e ninguém dirá que é tarde demais...”. E emendei com algum ritmo cubano, trilha sonora das minhas noites insones naquele lugar. Onde o verão sempre fica pra mais tarde.

Poderia jurar que fiquei assim durante toda a noite. Até que a moça parou de cantar. Próxima música. E um de nós, nem sei quem, respirou mais fundo. Pronto. Abri os olhos. Na verdade, embaixo da janela estavam minhas pernas. Levantei para tomar banho. Ele, pra encher a taça, selecionar nova trilha... Sei lá. A minha razão – e a dos outros – estava de volta. Mas pra quê, se não me serviam de nada.

Acho difícil... Mas será que dá pra tentar isso de novo?

4 comentários:

Kah Lessa disse...

In-crí-vel. =D
Lindo lindo lindo o texto.
I feel ya.
;)

Anônimo disse...

Belo.simples.inerte.irresponsável.sincero.verdadeiro.senseless

Anônimo disse...

anônimo?

Thales Rafael disse...

Larissa enveredando por caminhos experimentais da linguagem! Até o segundo parágrafo achei que ele estivesse masturbando ela. Sei lá por quê! Minha mente é muito sórdida, você sabe. Mas o final do texto me lembrou Goethe quando ele diz algo como só as crianças e os loucos são felizes - estes porque perderam a razão e aqueles pois ainda não a tem. Apesar do romance ser burguês e monótono, concordo. Esse negócio de razão, realidade e normal realmente é de um tédio sufocante. (Discursos subversivos!)

Sempre que leio os textos do blog me sinto um adolescente patético perdido no roteiro de um capítulo de malhação. Será que só eu sou feliz amando? Será que só eu ainda acredito na magia da paixão? Será que Karen e Larissa ficarão para titias?

- O que, o Thales de novo?
- Como pode?
- Você não disse que tinha ido ao enterro dele?

Espasmos interlocutórios. Meus comentários sempre dispensáveis e incoerentes.

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